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The White Queen
*AMÉLIA FURACÃO?*
Às favas com a porra da tendinite! Já me sinto melhor o suficiente para voltar a escrever faz tempo, mas médico é bicho teimoso demais (ok, eles costumam estar certos, isso ajuda a explicar a teimosia...). Voltei. Tenho mais o que fazer! Se o braço quiser cair, que caia! Digitarei com o nariz...
Passei alguns destes dias em casa, de molho. Mereci, tinha férias vencidas desde o tempo em que o Covas era vivo.
Das minhas aventuras no mundo da tv aberta (só vê tv aberta quem tem muita coragem, hoje em dia), dediquei algum tempo para ver a novelinha que passa nas tardes da Globo. A heroína, mulher a frente de seu tempo, é uma cortesã. Bom, eu nem precisava dizer que era uma cortesã, bastava dizer que era a Malú Mader. Porque a Malú quase só faz puta “a frente de seu tempo” nos trabalhos para a Globo. E a coisa caminha quase sempre nessa direção: se é uma mulher vibrante, descolada e determinada, melhor se for puta. Mulher corajosa, na novela global, corre sempre o risco de ter sido meretriz.
Não sei que fascínio têm as putas para os autores de novela (e de alguns filmes). Parece que eles só conseguem escrever mulheres fortes e transgressoras se forem, também, prostitutas. Não que elas permaneçam nesta condição: o amor por algum imbecil vai servir de fio condutor para a sua purificação, abandonando a vida em pecado e ganhando o direito de ser, por completo, a heroína da trama.
É isso ou a Regina Duarte. Única atriz que parece ter conseguido o direito de ser uma personagem forte e determinada sem ter que passar pela fase vadia (provavelmente porque ninguém iria pagar para ir para a cama com a “namoradinha da Terra de Santa Cruz”).
É claro que, entre Regininha e a prostituta da vez, fico com a mulher de vida fácil (e como tal afirmação pode gerar dúvidas, esclareço: fico com a segunda), mas me cansei de ver a puta como heroína. Prostituição pode até ser legal para quem quer, mas não tem nada de heróico nisso. Bom, ao menos não no que se refere aos ditos padrões elevados da moralidade (ainda que, para trabalhar com certos tipos de homem, deva ser necessária uma dose cavalar de coragem, ou de falta de amor próprio, ou ambas as coisas).
Por que a dramaturgia brasileira parece incapaz de gerar mulheres bonitas, sensuais, inteligentes e donas do nariz que não sejam prostitutas? Por que essa constante manutenção do estereótipo “mulher sem par tem que ser prostituta”?
Fodam-se as Hildas Furacão, não é preciso desrespeitar o próprio corpo para se ter atitude! Paremos de chorar toda vez que uma puta de rosto bonitinho se dá mal na novelinha. Ninguém deve ou pode jogar pedra na Gení, mas eu é que não vou bater palmas pra ela e dizer que ela sim é um exemplo de mulher.
Mas é aquilo, a dramaturgia ainda está cheia de moralismos hipócritas e construções simplistas, fantasiosas e absurdas, muitas vezes apresentando relações paradoxais, tudo gerado por cabeças estúpidas, nem sempre sendo as de cima. Prostituta heroína pode, casal gay não. Mas se for para ter um casal gay, que seja de duas mulheres, não de dois homens (o bichinha só serve mesmo para fazer algum humor, né Sarita?). E que sejam duas mocinhas novinhas e gostosinhas, pra coisa rolar legal. Lésbica velha, a gente mata em explosão de shopping. Não sei para vocês, mas para mim isso parece produto de "reflexões penianas". Como é que teimam em dizer que novela é um produto feito especialmente para nós?
Eu me canso, mas até que as coisas estão um pouco menos desesperadoras. Houve um tempo em que Amélia é que era mulher de verdade...