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The White Queen
*WAR PIGS*
Sistematicamente, vou perdendo a fé na nossa sociedade. Como diria Regina Duarte (ironia, justo ela anda fazendo sucesso nos meus posts), estou com medo do que vem por aí.
O que muitos acreditaram ser uma virada na democracia e na sociedade brasileira, quando se elegeu um presidente que só consegue contar até nove (e acho que nem é só por causa da falta que lhe faz o décimo dedo), era na verdade a confirmação de que, na política, o que muda é com que “mão” vão nos roubar. Hoje a mão é a esquerda, ontem foi a direita, amanhã pode até ser alguém cujo programa de governo é berrar o próprio nome, cruzes.
Já não importa quantas denúncias apareçam, quão mafiosa se mostre a turba governamental. Fomos treinados à exaustão e agora estamos aqui balindo o bom e velho “todos iguais, mas uns mais iguais que os outros”.
O que me deprime é exatamente essa incapacidade de resolver as questões. Esqueceu-se o mensalão por uns tempos, pra finalmente poder-se gritar “Juiz ladrão” com propriedade. Não que o caso da corrupção no mundo do futebol não seja igualmente uma vergonha, mas estou cansada deste slim pack da política do pão e circo (ninguém viu pão nenhum).
Aliás, é muito simbólico ver ruir a paixão nacional por causa da corrupção. Estamos chafurdando nesta gosma, o que sobrou do país duvidosamente “abençoado deus”. E poucos de nós estão realmente fazendo alguma coisa para mudar essa situação patética.
Vivemos uma rotina viciada até o talo. Dormimos tarde, acordamos cedo. Saímos da garagem olhando para os lados, com medo de algum assaltante madrugador. Trancamos nossas casas de um modo tão desesperado que até Tio Patinhas acharia exagerado. Somos reféns dos musculosos e mal encarados lavadores de vidros, nos faróis (onde diabos se enfiaram aquelas criancinhas magérrimas que costumavam, olhos tristes, cumprir este papel?). Fazemos corredores absurdos para que os motoboys passem por nossos carros sem chutar nossas portas ou levar nossos espelhos retrovisores externos. Lemos, ouvimos e debatemos toda e qualquer denúncia que despenque na nossa já atribulada cabeça. E o que fazemos em seguida? Merda nenhuma. Vamos lá ver o que o Tião vai inventar agora (a propósito, por que o Tião não morre? Poderia levar a Sol junto, sem problema algum).
É muita energia desperdiçada! Estamos aqui, explodindo e brigando uns com os outros, enquanto aqueles filhos de chocadeira continuam levando o país no bico. A violência no país é uma pequena guerra civil todos os dias, só que ninguém se dá conta (ou faz questão de ignorar os fatos). Descontamos nossa frustração nos vizinhos, no motorista da frente, na atendente de telefone, e não nos canalhocratas gordos e obtusos que nos afundam cada vez mais nessa pocilga. Depois tomamos nossa dose de anestesia em frente à tv, esperando avidamente pelo próximo capítulo. Mas, hei! A sua vida continua correndo, sabia disso?
Já pensou se cada vez que sentíssemos vontade de explodir com alguma dessas frustrações, nós redirecionássemos a nossa energia e cobrássemos as devidas providências dos governantes? Se canalizássemos nossas energias para exigir uma postura ao menos digna daqueles que só estão lá porque NÓS deixamos? Já pensou o quanto podemos ter uma sociedade diferente se decidirmos nos envolver DE VERDADE com ela, ao invés de ver a novela, falar mal de tudo ou escrever um textinho revoltadinho e colocá-lo na rede?
Teria que ser agora. Já. Demoramos demais pra começar. Se eu for esperar o esmalte secar antes de colocar mãos à obra, tenho medo que olhe pelo vidro e já não consiga mais diferenciar entre homens e porcos, tal qual já nos avisava George Orwell.